13 de março de 2011

A complexa arte da empregabilidade


Por Henrique Martins

Ah, o desemprego! A sensação de impotência cada vez que abrimos os olhos pela manhã para procurar as primeiras vagas online. A frustração de reviver um estranho sentimento de demissão cada vez que somos rejeitados em uma seleção. A constante luta para ser (ou parecer) suficiente para a empresa que te chama para uma entrevista. O gosto metálico na boca quando recebemos aquele telefonema tão esperado e presenciamos a morte da própria esperança: “Gostamos muito de você, mas encontramos alguém com um perfil mais adequado à vaga. Mas não se preocupe, seu currículo continuará em nosso banco de dados para futuras vagas”. BULLSHIT! (Não vou nem falar das situações em que o famoso QI – Quem Indica – nos rouba uma vaga garantida senão vou começar a espumar de raiva).
Claro que essas circunstâncias não se aplicam simplesmente aos desempregados velhos de guerra, mas também a todas as pessoas que não estão satisfeitas com seus empregos e buscam alguma ocupação que tenha mais a ver com seus gostos e metas. Logo, um bom desempregado talvez seja aquele que é empreendedor de si mesmo, autônomo, que faz seu próprio emprego. Mas há uma convicção cega enraizada na sociedade brasileira de que se uma pessoa está desempregada obviamente ela não é empreendedora. É preguiçosa ou simplesmente não quer trabalhar. (Preciso repetir BULLSHIT?)
Vista seu melhor (ou único) terno – aquele mesmo que você usou na última festa de formatura – e prepare-se mentalmente para encontrar outros patetas engomados como você para duelarem em seleções Ultra-Super-Mega elaboradas, com dinâmicas realmente dinâmicas, testes psicológicos patéticos, redações, provas, entrevistas e perguntas sem sentido. Verdadeiras guerras de gladiadores em busca de sua pequena oportunidade e lugar ao sol. Não sei bem o que acontece nos bastidores dessas seleções, mas posso supor: certos psicólogos precisam mostrar trabalho de alguma forma. Logo, elaboram testes direcionados à eliminação não necessariamente dos menos competentes e sim dos mais tímidos. Afinal, a timidez é amplamente enxergada como um indício de fraqueza, pusilanimidade e derradeiro fracasso.
Não importa quantas especializações, mestrados e doutorados você tenha, a timidez sempre será uma péssima característica para quem busca emprego. Nessas HORRÍVEIS e improdutivas dinâmicas de grupo é quase certo que o tímido vai desaparecer diante da ousadia de alguns ferozes e arrogantes “companheiros” de seleção, isso quando não são rebaixados e tem suas fraquezas desnudadas pelos próprios concorrentes. Pobres tímidos! Têm pavor de parecerem arrogantes e quando pensam em falar – em se expor – gaguejam, tremem, falam alguma besteira passiva e a eliminação é certa. Afinal, quem monta um processo de seleção para escolher e contratar um funcionário introvertido? Resultado: Todo tímido, necessariamente, tem que ser um ator.

Você vai trabalhar junto com a Mimosa lá na fazenda!
             Conseguir um empreguinho de merda que seja, ser empreendedor de si mesmo, consiste basicamente em atuar, ou seja, atuar para se vender da melhor forma possível. Aquele que busca seu espaço no mercado de trabalho precisa aprender a jogar dentro das regras desse jogo. “Enrolar” os psicólogos e convencer de que é a melhor opção para a vaga é apenas a primeira etapa. Manter uma impecável postura profissional é o próximo passo para segurar este emprego na área privada até que se passe em um concurso público – o ideal candango da estabilidade profissional – que, assim como as seleções do setor privado, possuem regras próprias para se jogar.
Concurso está longe de ser uma disputa de inteligência. Grosso modo, maior parte das provas tem pouco a ver com inteligência. Tem muito mais a ver com sua perícia em driblar os famosos “peguinhas” da banca, e na sorte de cair muito do que você estudou (mesmo que você tenha estudado tudo sempre haverá um ou outro tópico que você vai dominar menos). Ou seja, de uma forma ou de outra o aspirante à vaga tem que se modular para entender as regras do jogo. E se você não entender como o jogo funciona não vai importar o quanto você estude e quantas provas você faça. Você continuará sendo um mero estudante desempregado cheio de conhecimento teórico inútil.
Em simples palavras, o que significa o concurso público para grande parte do público brasiliense? Destruição definitiva ou suspensão temporária dos sonhos fantasiosos da infância para concretização de parte das realizações materiais. Muitos colegas concursados me dizem o seguinte: Estou nesse trabalho por agora, mas almejo mesmo é ser médico/engenheiro/músico/escritor/astro de rock, etc. Muitos nunca almejaram estar onde estão, mas sabiamente seguram seus empregos e estudam para concursos melhores até que tenham condições para transformar seus hobbies em empregos de verdade (Definição de “emprego de verdade”? Aqueles que geram lucro, oras!). Mas fora isso, a verdade é que concurso público geralmente fecha duas portas: A porta da riqueza e a porta da pobreza. Você nunca mais será pobre na vida, mas também não será rico.
Desemprego! É uma merda quando seu emprego foi pelos ares.
Enfim, voltando ao papo de atuar, neste carnaval tive a oportunidade de assistir ao show de improviso do grupo Sete Belos (ótimo, por sinal) que me fez refletir sobre a questão de ganhar a vida fazendo o que se gosta. Não sei se os integrantes do grupo possuem outros empregos formais, carteira assinada e todas essas coisas, mas só a ideia de estar ali em cima de um palco, ganhando para sorrir e fazer os outros sorrirem soa muito motivador. Isso me faz pensar no conceito de “Bem Maior”, quando uma atividade não possui nenhum mal em sua essência e só causa o bem aos seus executores e envolvidos.
Ganhar a vida fazendo o que gosta pode ser bem exemplificado através daquele velho ditado (porém inabalavelmente verdadeiro): Encontre uma atividade que goste e não precisará trabalhar nunca mais.

Segue abaixo uma bela sacada de empreendedorismo. Confiram:

7 comentários:

  1. Para quem está brigando por um lugar significativo no mercado privado, um concurso simboliza: melhores condições de trabalho, bom salário, benefícios dignos, orgulho por não ter mais que ouvir desaforo e assédio moral, quebra do convívio com fofocas, invejas, e pessoas que querem sempre sua cabeça e sentem medo de perderem o seu espaço. (E as vezes não é assim... o que frustra alguns concursados)
    A busca por oportunidades no mercado, e a negação do espaço nos leva a pensar que por mais que se estude e por mais que se aprenda nunca é somos suficiente,nunca sabemos o suficiente.
    E para completar, sempre haverá QI ou uma pessoa que realmente estudou mais e tem maior experiência.
    É difícil aceitar que nunca se é bom o suficiente, e dá raiva ficar sabendo que um "peixada" tirou um espaço que poderia ser seu.
    Para quem, a família não tem condições de bancar sonhos ou profissionalização adequada, o mercado como um todo nos remete há uma depressão e sensão de perda de tempo de vida. Quem nunca esteve em uma empresa estranha, fria, fazendo serviço chato, aguentando pessoas intrigueiras e fofoqueiras e chatas e engoliu todos os sentimentos com a frase: Preciso desse emprego pela miséria dinheiro, e até mesmo para mudar de emprego.?

    A questão é sempre encontrar o que gostamos de fazer, sempre lutar por um espaço digno e buscar o reconhecimento o que não é fácil para quem já está no mercado e muito menos para quem busca.

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  2. Malditas seleções com psicólogos que tem que mostrar serviço a todo custo e elaboram essas dinâmicas idiotas que não provam nada...

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  3. Adorei a parte do terno da última festa é muita verdade. hehehehehehe

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  4. De onde eu venho o lema é: Diga-me como e com quando($$$$) ajudastes em minha campanha política que eu lhe direi qual vaga ocuparás nas empresas que venho administrando.
    Eitaaaaa Brasília...

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  5. "Hey, Brown Shoes! Shine your shoes and cut your hair".

    Não consigo sequer pensar em algo que possa acrescentar suas palavras, Charlie! Conseguiu abranger muito daquilo que frusta a muitos, empregados ou não.
    É realmente escruciante pensar que não se tem controle de absolutamente porcaria nenhuma quando não se nasce com dinheiro ou "padrinhos" e que muito tempo, suor e lágrimas serão despendidos pra conseguir se fazer algo que não se gosta só pra poder comer um dog no mykeias ou para poder estudar pra ter aquele "empregão" que sua mãe sempre sonhou pra você no Banco do Brasil!
    Estabilidade um cacete quadrado!

    O texto ficou muito, MUITO bom mesmo!

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  6. Prezados visitantes!

    Obrigado pelas diversas opiniões.
    É bom saber que não sou só eu que estou vendo coisas MUITO erradas no atual mercado de trabalho.

    Concordo plenamente com driquerida, 3º Anônimo e Paul! Principalmente sobre a problemática do apadrinhamento, a famosa "peixada" q privilegia alguns duvidosos profissionais em detrimento daqueles q realmente se esforçam.

    Anônimo 1: Muitas vezes as dinâmicas não provam nada, a competência as vezes pode ser provada em uma simples e boa conversa.

    Anônimo 2: Não sei se vc é o mesmo Anônimo 1, mas o terno "filho único" é experiência própria! hehuaheuhauehauea

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  7. Pessoas, há muito mais coisas erradas!

    E estas vêm de muito mais longe do que este pobres psicolegas corporativos com a visão mercadológica patronal conseguem vislumbrar.

    Tudo aqui segue modelo de fora, SWOT, Avaliação 360º, entrevista por competências... método disto e daquilo...enquanto Maria e João mal se aguentam dentro da condução tomando chuva no quengo pra enfrentar as enfadonhas aulas daquele professor tão repetitivo, que faltou, por ser fruto da falta de investimento e incentivo, pois o governo resolveu alugar aquela sala...ops!!! é melhor parar...

    e por ai vai!

    Todos temos razão quanto as chateações e consternações.

    Há um caos em meio a tantas fórmulas mágicas e conceitos enigmáticos que dominam as corporações.

    Nos bastidores muito burburinho. Em cena muita maquiagem e máscara. Segue este jogo de esconde-esconde, sofre todo mundo. Ninguém entende o que realmente é necessário pra ser o bom profissinal , o desejável, nem mais tem coragem de gastar os caraminguás em incrições naqueles concursos e cursinhos...com o risco de ser convocado e desconvocado no mesmo dia...é/soa familiar????

    Só mais uma coisa: E a nossa parte? Até que ponto, muito além do controle emocional pra não gaguejar (natural, penso eu, para seres humanos).

    Se precisa de padrinho pra entrar...ops! será que a empresa é tão boa assim quanto você imagina ser???? Acho que você merece mais!


    Acho que ser empreendedor de si mesmo passa além de conseguir um empreguinho de merda... pois o que tem gente ganhando grana limpando a nossa nas caixas de esgoto com aqueles possantes caminhões...!!!!

    Gostei da frase final: quando a gente trabalha mesmo no que gosta, sem hipocrisia, sem medo de ser ou de ouvir críticas e apontamentos infelizes, chega-se longe. Tem que ter o tal tino comercial (empreendedorismo), o olhar clínico (selecionador de talentos e oportunidades)..enfim de recrutador e empresário, o Brasil tá cheio. Vai um bolinho ai? Pronta entrega!Saído do forno com cafézinho!

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